A Voz do Povo...

Julgar é uma das manifestações políticas mais comuns na vida humana. Alguns julgamentos tornaram-se célebres e muitos deles tiveram suas sentenças nascidas da força do clamor popular. O mais conhecido deles é o julgamento que levou Jesus Cristo à cruz, num cenário em que Pilatos sabidamente discordava do desejo da massa humana, verbalizou essa discordância e ainda assim lavou suas mãos dando liberdade a Barrabás e sentenciando Jesus.

Na história recente do Brasil um julgamento se tornou célebre. Pode até mesmo se afirmar que nenhum outro ganhou tamanha repercussão de mídia antes deste que se realiza agora para estabelecer se são culpados ou inocentes Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni. Em 1980, o Tribunal do Júri de Cabo Frio, cidade litorânea do Estado do Rio de Janeiro, se reuniu para julgar Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca. Ele assassinou, em dezembro de 1976, a socialite Ângela Diniz, conhecida como “Pantera de Minas”, que chegou a ser namorada do colunista Ibrahim Sued.

Neste julgamento, Doca foi inocentado e em sua defesa alegou que “matou por amor”. Depois, num outro julgamento, sem maior apelo popular, foi condenado por homicídio.

O que diferencia o julgamento de Doca deste que se realiza em São Paulo (Caso Isabella Nardoni) é exatamente a diferença da força de mídia estabelecida pela evolução tecnológica.

Quem vivenciou o julgamento de Doca e acompanha a cobertura jornalística do Caso Nardoni observa que os dois têm praticamente o mesmo apelo e comoção popular. Entretanto, naquela oportunidade (início dos Anos 80) sequer existia telefone celular. Hoje, a cobertura da tragédia do Edifício London conta com recursos altamente sofisticados, como câmeras digitais, sites e blogs.

Assim como a absolvição de Doca se deveu à grande força de apelo popular, o mesmo deve ser verificar com Alexandre e Anna Carolina, que dificilmente escaparão de uma pesada condenação, como já “sentenciou” seu próprio advogado de defesa.