Através de constantes ameaças,
brigas, ofensas, agressões físicas e psicológicas, disseminação de
comentários maldosos, repressão, insultos e humilhações, a vítima
do bullying, muitas vezes, sofre calada. A escola pode ser palco de todos
esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos em um
verdadeiro inferno.
Como tema “Bullying nas Escolas”,
resolvemos entrevistar uma professora e uma vítima.
I - Entrevista com Tânia
Cristina Gomes Barreto, 53 anos, professora da rede estadual do Rio de Janeiro,
leciona há 35.
Você já presenciou
algum tipo de bullying?
Tânia Cristina: “Já, principalmente em relação à pessoas que não
tem o padrão de beleza imposto pela sociedade, deficientes e pessoas que moram
em lugares diferentes e mais afastados do local da escola.”
Qual foi a posição da
escola?
Tânia Cristina: “As decisões eram tomadas de acordo com a gravidade
dos ataques. E as mais frequentes atitudes eram repreensão do agressor, chamar
os pais para uma conversa, suspensão, ou chamar mesmo o próprio aluno para
tirar satisfações. E ultimamente, como os gays estão sofrendo mais ataques,
acontecem palestras explicativas mostrando que se deve respeitar as diferenças.”
Qual foi o pior caso?
Tânia Cristina: “Dois irmãos que eram deficientes e moravam
afastados da escola que tinham bastante dificuldade em aprender, não conseguiam
sair do sexto ano do ensino fundamental, sofriam muitos ataques de bullying e
não chegaram a reagir. Tempo depois pararam de estudar.”
II - Entrevista com o Sr. Armando Uhmam, 24 anos, professor de
Matemática, solteiro, homossexual.
Qual o tipo de agressão que você sofreu e
em qual período da sua vida?
Armando Uhmam: “Sofri vários tipos de agressões verbais e físicas devido ao
meu jeito de ser, era frequentemente chamado de ‘veadinho’, ‘bicha’ e outros
nomes pejorativos. Isso aconteceu dos 14 aos 17 anos, ano escolar 8º ano ao
ensino médio.”
O que você sentia quando era abordado
pelos seus colegas dessa forma?
Armando Uhmam: “Como eu ainda estava me descobrindo como pessoa, não entendia
bem o que estava acontecendo comigo, acabava ouvindo aqueles insultos sem
nenhuma reação, porque eu chegava a acreditar que eles poderiam ter razão em me
tratar daquela forma. Até eu mesmo me via diferente.”
Esse sentimento provocou uma exclusão social?
Armando Uhmam: “Sim, pois eu acabava me afastando por medo do que eles
poderiam fazer comigo. Eu me sentia muito mal e culpado por essa exclusão, só
que com o passar do tempo pude perceber que eu não era diferente de ninguém, eu
era um ser humano como outro qualquer. O problema não estava em mim e sim nas
pessoas que me agrediam.”
Você teve algum apoio para enfrentar essa situação?
Armando Uhmam: “Minha mãe e toda minha família foram percebendo que eu andava
triste e cabisbaixo, sem vontade de ir para escola e nem sair de casa. Minha
mãe conversou comigo e eu não conseguia falar pra ela o que eu estava sentindo,
então ela esteve na escola conversando com meus professores e a diretora, não
tendo uma resposta satisfatória, ela então decidiu me levar a um psicólogo para
um acompanhamento. Posso dizer que o meu maior apoio foi o da minha família,
contando é claro com a ajuda de um profissional para ajudar a expor os meus
sentimentos.”
Quando essas agressões tiveram um fim?
Armando Uhmam: “Essas agressões tiveram um fim quando eu me conscientizei de
que eu não poderia mais deixar que as pessoas me tratassem com aqueles preconceitos. Passei a dar um basta naquelas
atitudes, pois devemos aprender a lidar com as diferenças de cada um sem
discriminações.”
Essas agressões trouxeram consequências
para a sua vida?
Armando Uhmam: “Sim. Hoje eu luto contra todas as formas de preconceito,
inclusive o bullying nas escolas, onde faço um trabalho voluntário junto a uma
escola pública no bairro Parque Aurora. Esse é um trabalho de conscientização e
valorização do ser humano.”
Mesmo o tema sendo antigo, hoje ainda mantém um caráter
oculto, pelo fato de as vítimas não terem coragem para denunciar.
As conseqüências afetam a todos, mas a vítima é a mais
prejudicada, pois os efeitos podem ser eternos. A pessoa pode desenvolver algum
tipo de trauma psicológico.
Como em todo processo, tanto a família quanto a escola têm o
papel de dar uma continuidade ao trabalho iniciado pela outra.
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