terça-feira, 21 de junho de 2011

Bullying nas escolas

Através de constantes ameaças, brigas, ofensas, agressões físicas e psicológicas, disseminação de comentários maldosos, repressão, insultos e humilhações, a vítima do bullying, muitas vezes, sofre calada. A escola pode ser palco de todos esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos em um verdadeiro inferno.  
Como tema “Bullying nas Escolas”, resolvemos entrevistar uma professora e uma vítima.

I - Entrevista com Tânia Cristina Gomes Barreto, 53 anos, professora da rede estadual do Rio de Janeiro, leciona há 35.

Você já presenciou algum tipo de bullying?

Tânia Cristina: “Já, principalmente em relação à pessoas que não tem o padrão de beleza imposto pela sociedade, deficientes e pessoas que moram em lugares diferentes e mais afastados do local da escola.”

Qual foi a posição da escola?

Tânia Cristina: “As decisões eram tomadas de acordo com a gravidade dos ataques. E as mais frequentes atitudes eram repreensão do agressor, chamar os pais para uma conversa, suspensão, ou chamar mesmo o próprio aluno para tirar satisfações. E ultimamente, como os gays estão sofrendo mais ataques, acontecem palestras explicativas mostrando que se deve respeitar as diferenças.”

Qual foi o pior caso?

Tânia Cristina: “Dois irmãos que eram deficientes e moravam afastados da escola que tinham bastante dificuldade em aprender, não conseguiam sair do sexto ano do ensino fundamental, sofriam muitos ataques de bullying e não chegaram a reagir. Tempo depois pararam de estudar.”


II - Entrevista com o Sr. Armando Uhmam, 24 anos, professor de Matemática, solteiro, homossexual.
 Qual o tipo de agressão que você sofreu e em qual período da sua vida?
Armando Uhmam: “Sofri vários tipos de agressões verbais e físicas devido ao meu jeito de ser, era frequentemente chamado de ‘veadinho’, ‘bicha’ e outros nomes pejorativos. Isso aconteceu dos 14 aos 17 anos, ano escolar 8º ano ao ensino médio.”
O que você sentia quando era abordado pelos seus colegas dessa forma?
Armando Uhmam: “Como eu ainda estava me descobrindo como pessoa, não entendia bem o que estava acontecendo comigo, acabava ouvindo aqueles insultos sem nenhuma reação, porque eu chegava a acreditar que eles poderiam ter razão em me tratar daquela forma. Até eu mesmo me via diferente.”
 Esse sentimento provocou uma exclusão social?
Armando Uhmam: “Sim, pois eu acabava me afastando por medo do que eles poderiam fazer comigo. Eu me sentia muito mal e culpado por essa exclusão, só que com o passar do tempo pude perceber que eu não era diferente de ninguém, eu era um ser humano como outro qualquer. O problema não estava em mim e sim nas pessoas que me agrediam.”
 Você teve algum apoio para enfrentar essa situação?
Armando Uhmam: “Minha mãe e toda minha família foram percebendo que eu andava triste e cabisbaixo, sem vontade de ir para escola e nem sair de casa. Minha mãe conversou comigo e eu não conseguia falar pra ela o que eu estava sentindo, então ela esteve na escola conversando com meus professores e a diretora, não tendo uma resposta satisfatória, ela então decidiu me levar a um psicólogo para um acompanhamento. Posso dizer que o meu maior apoio foi o da minha família, contando é claro com a ajuda de um profissional para ajudar a expor os meus sentimentos.”
Quando essas agressões tiveram um fim?
Armando Uhmam: “Essas agressões tiveram um fim quando eu me conscientizei de que eu não poderia mais deixar que as pessoas me tratassem com aqueles preconceitos. Passei a dar um basta naquelas atitudes, pois devemos aprender a lidar com as diferenças de cada um sem discriminações.”
Essas agressões trouxeram consequências para a sua vida?
Armando Uhmam: “Sim. Hoje eu luto contra todas as formas de preconceito, inclusive o bullying nas escolas, onde faço um trabalho voluntário junto a uma escola pública no bairro Parque Aurora. Esse é um trabalho de conscientização e valorização do ser humano.”

Mesmo o tema sendo antigo, hoje ainda mantém um caráter oculto, pelo fato de as vítimas não terem coragem para denunciar.


As conseqüências afetam a todos, mas a vítima é a mais prejudicada, pois os efeitos podem ser eternos. A pessoa pode desenvolver algum tipo de trauma psicológico.


Como em todo processo, tanto a família quanto a escola têm o papel de dar uma continuidade ao trabalho iniciado pela outra. 



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